Sob a luz diáfana do quarto escuro do motel ela se levanta, malemolente.
Cansada de tanto amar.
Espreguiça e o observa deitado na cama. Ele dorme tranquilamente depois da luta.
Uma doce batalha de braços e lábios, cabelos e pernas . Já é tarde e ele deve voltar pra casa, a desculpa na ponta da língua, escorregando nas palavras.
Os sapatos de salto dela descansam, esquecidos no canto do sofá. Ele não deixou que ela tirasse os sapatos nessa noite. Ficam lindos em você, ele disse. Fetiche, talvez. Já reparou que as mulheres de um filme pornô nunca tiram os sapatos? Foram arrancados no final, em meio á exaustão e lençóis.
Ela é amante. Amante- a palavra grita dentro de seus ouvidos, martela, se repete.
Aquela que está sempre disponível, que nega o mau-humor, a TPM, a fadiga e o perfume.Que se doa de corpo e alma aos poucos momentos de liberdade, efêmeros e apressados.
Que se esforça em mostrar o melhor de si.
Que não pode exigir, nem cobrar.
Que sustenta casamentos.
Mas há um quê de ilusão no perfil da amante. Ela se sente a número 1, a mais importante, a titular. Vive o relacionamento pela sedução, pela clandestinidade e o gosto do proibido. Pode ser condenada a viver refém de si mesma, presa no cárcere de sua própria fantasia.
Hora de se despedir. Ela o acorda, se veste silenciosamente e calça seus lindos sapatos de salto alto.
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